Abro a torneira, o som de água a correr interrompe e preenche o silencio. Olho o espelho, encho as mãos de água e esfrego a cara numa tentativa vã de lavar tudo o que penso... vejo... tudo menos o reflexo de quem sou, vejo-te no passado, mas essencialmente o que eu quero que volte a ser realidade.
Oiço lá fora a chuva, o frio, curioso, desloco-me vagarosamente e afasto as cortinas. Na rua espio as pessoas a correr, a tentar evitar o inevitável, fugir da chuva. Não entendem, ninguém entende, que apenas o que conseguem é ficar cada vez mais molhadas, é sentir cada vez mais frio. Fugir não é a solução, nunca vamos conseguir correr com os grilhões do passado a prender-nos os movimentos, nunca conseguirão fugir àquela nuvem escura que tapa todo o firmamento e nos impede de ver o sol.
Escondidos sob o parapeito do prédio vizinho vejo outro grupo, a tentar evitar a chuva, ora abrigando-se quando é demasiado forte, ora saindo com guarda-chuvas quando ela está mais fraca... mas evitar a chuva também não é a solução, evitar não nos ajuda a progredir, a evoluir, evitar não nos vai permitir seguir em frente e viver... evitar também não é a solução...
...mas chove tanto...
Vejo-te lá em baixo, a caminhar pelo meio da rua, sem medo e feliz no meio da chuva, não foges, não te escondes, simplesmente vens ter comigo, e aí percebo... a única forma de ser feliz é sentir o teu calor a aquecer-me por dentro... contigo enfrento chuva, frio, neve, tudo...
...contigo, aqui, sou feliz.
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